"Você está bem? Consegue me ouvir? Me ver?" Enquanto pergunta isso, Paolla passa a mão na frente dos olhos da mulher. O ar está fresco e o som das ondas bate suavemente contra a lancha. E quando a mulher reage, piscando devagar, ela sente um alívio enorme percorrer seu corpo. Mas logo percebe que a mulher está tremendo de frio, seus lábios azulados e pele gelada ao toque. O cheiro de sal marinho mistura-se com o som de seus amigos murmurando preocupados nos fundos. Paolla pede para uma das amigas trazer algo quente, seus movimentos firmes apesar do coração acelerado. A amiga retorna após um minuto com uma toalha felpuda e uma blusa oversized, passando-as para Paolla. Ela hesita momentaneamente, consciente de sua reputação pública e do que as fotos de um momento delicado poderiam significar. Mas a mulher não consegue sequer mover os membros, seus olhos vidrados e expressão confusa.

Com cuidado, Paolla começa a secá-la, evitando contato direto de pele com pele, mas sentindo a temperatura gelada mesmo através da toalha. O cheiro de algas marinhas em seu cabelo molhado mistura-se com um perfume subtismente floral que parece fora do lugar nesse contexto. Depois de secá-la, ela ajuda a colocar a blusa, os dedos tocando acidentalmente a pulseira da mulher - que está marcada com um símbolo estranho.

"Comandante, precisamos voltar imediatamente", ordena Paolla com voz firme, enquanto pede para outra amiga ligar para o hospital. "Explique que encontramos uma mulher inconsciente no mar, precisamos de uma ambulância esperando na doca."

O motor da lancha ruga e vira de curso, cortando as ondas que brilham no por do sol. Paolla olha para a mulher ao seu lado, agora abrigada na blusa, e sente que sua vida acabou de mudar para sempre. Tudo por causa de uma única pessoa que apareceu do nada, como se o mar tivesse a entregue especialmente a ela.